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  • cecilialeitecosta

PSICANÁLISE E SUJEITIVIDADE CONTEMPORÂNEA

Atualizado: 3 de mai. de 2023

Dando continuidade ao Posta anteriores, vamos voltar às questões que foram disparadoras das reflexões desse ensaio: em que medida os sujeitos de hoje são um reflexo/resultado das mudanças culturais? A psicanálise está desatualizada/superada? Considerando que nosso objetivo é criar um vocabulário familiar para pensar sobre os sintomas atuais, vamos considerar a metodologia freudiana a partir de duas premissas centrais que se referem ao papel da angústia no desenvolvimento psicológico. 1) Angústia e a primeira condição existencial humana- ela vem junto com a necessidade de sobrevivência (sugar o seio). 2) A angústia[1] também e o termômetro que mede se um conflito, no presente, dispara uma resposta de stress desproporcional ao evento real. Ambas as definições nos parecem válidas e oferecem uma das mais refinadas compreensões dos distúrbios emocionais. Existem teorias sobre ansiedade, depressão e dificuldades na sociabilidade, exaustivamente detalhadas da perspectiva sindrômica (sintomática), mas não em termos das suas etiologias- salvo se considerarmos os gatilhos dos sintomas como suas causas. Seguindo essa linha, existem inúmeras teorias e métodos para trabalhar ansiedades circunstanciais e para mapear padrões psicopatológicos. Entretanto, quando são neuróticos, há uma grande chance que eles reincidam ou que a angústia não descarregada se expresse em outro sintoma, com a mesma função psicológica. Padrões inconscientes, muitas vezes, são estruturais e são o resultado de áreas da psiquê [2]que não se desenvolveram completamente em função de traumas nos primeiros anos de vida e/ou atmosferas psicológicas inibitórias da espontaneidade infantil tais como: rejeição, abandonos, hostilidade, indiferença, dentre outras. Elas provavelmente não serão dissolvidas apenas com estratégias de treinamento, a menos que a pessoa esteja trabalhando o acesso a essas memórias introjetadas. Dessa perspectiva, a psicanálise ainda oferece uma contribuição preciosa. Em resumo, sua contribuição ainda é relevante para refletir sobre as personalidades atuais em dois pontos: 1) na investigação clinica dos climas inibitórios infantis, os quais, hoje, na maioria dos casos, são menos comumente climas sexualmente repressivos; 2) na compreensão da introjeção de modelos identitários (parentais) – um dos pilares fundamentais para o desenvolvimento do Ego. O Ego é constituído pelos valores, conceitos, ideias, percepções, gostos etc., que organizam nossa autopercepção. Finalmente, as aspirações de vida e referências identitárias mudaram. Obviamente, as mudanças socioculturais tiveram impacto no desenvolvimento dos indivíduos(egos), já que os valores morais e referências estéticas antigos foram substituídos. Nosso objetivo foi mostrar que essas mudanças tiveram influência para o desenvolvimento de egos mais criativos, por um lado, e mais relutantes, por outro, no que tange a segurança sobre os próprios desejos e necessidades (em função das muitas referências e possibilidades disponíveis). Esse e o background dos distúrbios emocionais contemporâneos. As últimas gerações, em geral, têm sido menos neuróticas (no sentido de serem menos sexualmente reprimidas), mas são mais ansiosas, com mais dificuldade de concentração/foco e com muitos distúrbios associados a ansiedade[3]. A ligação entre eles está no aumento das angustias existenciais, que são associadas as direções para a vida. Continua no próximo Post

[1] Para Freud, na sua ultima versão da teoria da Angústia (Inibição, sintoma e angústia, 1926), a diferença entre elas estaria no fato da última- angústia automática- ser produto do desamparo psíquico do latente, que evidentemente, contrapartida do seu estado de desamparo biológico”(relativo a primeira angústia). La Planche e Pontalis (2001).p.27. Martins Fontes. SP. [2] Para mais detalhes ver Post 1- Fase cenestésica, in ensaio 5- Angústias. In: www.ceciliapsicologa.org. [3] Esse tópico será desenvolvido no próximo ensaio.


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