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  • cecilialeitecosta

O RESULTADO DAS MUDANÇAS CULTURAIS DOS MILLENNIALS E CENTENNIALS NAS SUBJETIVIDADES ATUAIS

Atualizado: 5 de abr. de 2023

Dando continuidade aos Posts anteriores, refletimos sobre como as mudancas sócio-culturais nos últimos 50 anos resultaram em mudancas de valores e, por conseguinte, dos referenciais que guiavam as aspirações pessoais e sociais. Dos Millennials para cá, encontramos pais mais liberais, acesso muito mais fácil à informação e referências identitarias transitórias[1]. Os pais ainda são os modelos identitários principais da criacão das crianças, mas suas identidades são turbinadas por muitas outras referências e há um declínio nos limites e restrições vindos dos modelos identitários. Portanto, dos anos 70 em diante, as pessoas têm sido criadas em ambientes menos rígidos e isso resultou em egos menos reprimidos. Na geração Millennial, em especial, hove uma mudança de egos super-contidos para tipos mais comumente sem contorno.[2]. Por outro lado, valores ligados ao esforço, empenho, disciplina e perseverança voltaram a ser percebidos como cruciais novamente de uma década para cá. Apesar de agora não serem mais associados à autocontenção, eles são centrais para o desenvolvimento pessoal e são a base da convicção de que qualquer um, potencialmente, pode ser bem sucedido se for suficientemente tenaz. Resiliência ainda é um traço/habilidade apreciado. Mas Grit talvez seja um termo mais preciso para descrever os valores/traços associados às performnaces bem sucedidas, ao alcance de todos, desde que sejam determinados o suficiente para não desistirem de seus sonhos[3]. Grit tambem está associada ao que vem sendo chamado de mentalidade de crescimento (growth mindset). Duckworth, a criadora do termo, usou como ponto de partida para a sua pesquisa a pergunta: O que faz alguem ser bem sucedido e por quê? E, em diferentes contextos ela assinala que “(…) uma única caracteristica que emergiu como preditora de sucesso. E não era inteligência social (…), boa aparência física, saúde ou Q.I. Era Grit. Grit é paixão e perseverança (para alcançar) metas de longo prazo. Grit é ter vigor, foco no seu futuro, dia após dia, não apenas por uma semana ou por um mês, mas por anos e trabalhar muito duro para tornar esse futuro realidade[4]”. Esse é um valor central da cultura atual, presente nas aspirações das pessoas e que vem se estabelecendo juntamente com outros valores liberais trazidos, entre outros fatores, pelo avanço das tecnologias e do mundo virtual[5]. Indivíduos contemporaneos são, portanto, criados com mentalidades abertas e de crescimento a serem preenchidas por possibilidades criativas. Além disso, relações pessoais e contratos de trabalho, não devem ser tomadas como dados, porque a vida, em geral, é uma permanente transformação. E as pessoas não sentem isso como uma ameaça. A vida é assim mesmo, transitória. Dentro desse contexto, elas provavelmente não permanecerão em relacionamentos e contratos de trabalho insatisfatórios e são socialmente encorajadas a buscar melhores objetivos de vida. Elas também estão em constante movimento, preocupadas com o que podem estar perdendo no mundo fora dos seus escritórios ou em outros relacionamentos. Isso traz uma espécie de estado mental de permanente prontidão para mudança, que poderia ser associado à ansiedade, embora, nesse contexto, ele não devesse ser considerado um estado de ansiedade desproporcional. Na nossa visão, seria mais preciso descrever os sujeitos de hoje como egos expandidos, prontos para a mudança, o que não lhes impede de ter metas de longo prazo. Nós, agentes de saúde mental, caminhamos lado a lado no processo de pesquisa para entender de forma mais acurada as novos tipos de personalidades e as novas formas de sofrimento e desajuste social. Por outro lado, as pessoas continuam sendo mais “super-contidas” (reprimidas), sem contorno, entre outras peculiares combinações que definem como é ser um ser humano singular. A despeito dos contextos culturais, elas ccontinuam sofrendo com doenças psicossomáticas, disfuncões, auto-sabotagens, fugas, negações. Continuamos a ser neuróticos. De uma perspectiva psicodinâmica, o desafio de trabalhar com neuroses não está, apenas, na identificação dos traumas ou da origem de padrões disfuncionais mas em entender como agentes opressores externos se tornaram agentes opressores internos. Em outras palavras, como atmosferas hostis ou opressivas foram internalizadas pelos indivíduos e se tornaram uma parte deles, desconhecida deles mesmos, que os desqualifica, tirando-lhes a dignidade e auto-estima.

Em resumo, poderíamos dizer que as últimas geraçõoes- dos Millennilas em diante- são, em geral, menos sexualmente reprimidas, i.é, têm menos conflitos internos vindos da impossibilidade de entrar em contato com seus desejos mais íntimos, especialmente os menos aceitos socialmente. As mudanças cuturais tiveram considerável influência na formação de indivíduos com muitas possibilidades, criatividade e com menos limites e restrições no que toca as escolhas de direções para vida. Dessa forma, eles ganharam em liberdade e criatividade e perderam em auto-contenção. Entretanto, a vantagem da liberdade para escolhas de estilos de vida e experiências de si veio ao preço de um maiores níveis de angústia existencial[6]. Essa angústia cresceu ao lado da nova mentalidade que se estabeleceu como novo chão psicológico social, que chamaremos de multiplicidade (de possibilidades), diversidade (de escolhas de vida) e flexibilidade (espaço para negociação, especialmente com os pais). Antes as pessoas talvez lutassem mais para admitir desejos ou condições reprimidas, mas isso não costumava vir ao custo do encontro de um rumo para as suas vidas. Logo, apesar das novas gerações usufruirem do privilégio de ter mais liberdade e possibilidades, esse pacote vem com um duplo desafio: eles continuam sendo neuróticos (tendo conflitos encobertos que estão na base dos transtornos) e são mais dependentes de amadurecerem para encontrar direção para as suas vidas, já que o valor central para encontrá-lo é a satisfação existencial. Em poucas palavras, a maior parte dos indivíduos, hoje, precisa de um caminho mais longo para encontrar um rumo mais decisivo para as susa vidas. Ele virá ao seu tempo. O tempo é o que cada um precisará para entrar em contato com seus reais desejos, terem consciência do que importa, a fim de encontrarem caminhos mais alinhados com seus valores e desejos. Isso não significa que o caminho terá se encerrado ou será fixo. Mas é a fina linha de estabilidade com a qual podemos contar em um mundo de impermanências.

Continua no próximo Post

[1] Para maiores detalhes ver Posts 6-Millennials- geração Y, Post 7- O superego e a crise de autoridade, Post 8,- O Ego sem contorno, Post 9- Transição dos Millennials para os Centennials. Novas aspirações de vida, Post 12- Limites e contorno 3- Referências instáveis, egos expandidos e ansiedades. [2] Para maiores detalhes ver Post 7- O Pós-superego e a crise de autoridade, Post 8- O Ego sem contorno, Post 11-Limites e contorno- A diferença entre repressão e contenção, Post 12- Limites e contorno 2- Referência instáveis, egos expandidos e ansiedades. e Post 12- Limites e contorno 3- Não é sobre punição. É sobre consequências, in: Ensaio 7- Influências culturais na formação da identidade. In: www.ceciliapsicologa.org [3] Não discutiremos os aspectos positivos ou negativos de dos valores que sao referência me cada período histórico, uma vez que um debate mais profundo sobre esse tema excede nosso conhecimento e propósito do ensaio, qual seja: refletir sobre as influências de tais referências na formação das personalidades. [4] Duckworth, A.L. Grit. O poder da paixão e da perseverança. In TED Talks; In: TED.com (09 de maio de 2013). Free Translation. [5] Para mais detalhes ver Posts 10- Os dois pilares motivacionais , Post 12- Limites e contorno 2- , Post 14-Centennials/Z- geração "faça por conta própria" e Post 16-Centennials- multitarefas pensando fora da caixa, in: Influências culturais na formação da identidade. In: www.ceciliapsicologa.org [6] Para mais detalhes ver Post 5- Angústia Existencial. In: Ensaio 5- Adolescência e angústias. In: www.cecilipsicologa.org.


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