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  • cecilialeitecosta

O PÓS-SUPEREGO-CRISE DE AUTORIDADE

Atualizado: 7 de dez. de 2022

Dando continuidade ao Post anterior, voltando à teoria clínica, vamos examinar mais amiúde como as transformações culturais implicaram em transformações egóicas o longo dessas três gerações. Os Boomers e Xers são pais liberais: prezam o diálogo e são críticos da rigidez moral. Os Millenials, seus filhos, crescem com modelos de liberdades individuais internalizados e naturalizados. É uma geração que questiona e se habituou a ceder menos e negociar mais. Essa pauta de referências de costumes resulta, uma explosão de especializações em mediações em todas as áreas: educacional, jurídica, hospitalar e psicológica e com formato breve ou focal- terapias para crises conjugais e familiares, são um exemplo de um braço da psicoterapia que se expandiu muito nesse período. A ideia do trabalho é mediar as partes em conflito, com o objetivo de que conversem francamente e entrem em acordos. Sem entrar em detalhes que extrapolam o nosso conhecimento e objetivo, o ponto central é que a mudança nos costumes que aconteceu, paulatinamente, desde os anos 60, resultou numa sociedade que questiona. A estabilidade dos modelos do que funcionavam como alicerce de formação moral dos indivíduos até primeira metade do séc. XX (família, escola e Igreja) se tornam mais fracos[1]. Na nova forma de vida, as mídias (televisiva e depois digital) por meio da propaganda/marketing se tornam os grandes difusores de valores. Eles passam a oferecer os modelos e horizontes de vida almejados. Valores associados ao aos alcances individuais -sucesso e mérito, via empenho, esforço pessoal -são elevados ao topo das aspirações de vida. As liberdades individuais - de expressão e sexual, em especial- caminham junto com o laicismo, que encolhe consideravelmente o lugar da Igreja como fonte de valores essenciais para a formação moral. Paralelamente, vemos pais que, não obstante sejam ainda modelos identitários, não oferecem mais modelos de aspiração para vida adulta. Eles são abertos ao diálogo e encorajam os filhos a buscarem suas motivações, mas não costumam oferecer, eles próprios, modelos reverenciados. A família extensa e os antigos modelos identitários infantis (tios, avós, professores) ainda são referências afetivas importantes, em geral, modelos incorporados à identidade durante a infância, mas não, comumente, modelos de estilos de vida aos quais os indivíduos almejem. Temos uma crise de autoridade. Quais as consequências desse processo na formação dos novos Egos? Em primeiro lugar, as crianças são expostas a um universo moral muito mais complexo. O antigo “binarismo moral” presente na infância - certo e errado, preto e branco-, bem como a infância super egóica – de desejos reprimidos- são substituídos pelo modelo de questionamento. E esse contexto, a longo prazo, resulta em crianças mais criativas - expostas a muitos estímulos- e com mais dificuldade de autocontenção, visto que as referências são muitas e mais instáveis. Esse ponto será desenvolvido em seguida. Em segundo lugar, os modelos infantis mais importantes -paternos- se tornam mais fracos, não enquanto referencias morais, mas como modelos de horizontes de vida a serem copiados. Funcionam mais como modelos de aconselhamento e às vezes, hesitante, o que, eventualmente, pode contribuir para a instabilidade psicológica (insegurança) nas épocas mais críticas da formação de personalidade-especialmente na adolescência.

Continua no próximo Post [1]Dias, V.S. Evolução da Identidade Sexual. In: Vínculo Conjugal na Análise Psicodramática.. (2000). Ágora. SP












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