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  • cecilialeitecosta

O EGO SEM CONTORNO

Dando continuidade ao Post anterior, como vimos anteriormente, Ego é o conjunto de valores- conceitos, ideias, opiniões- e gostos que constitui nossa percepção de nós mesmos. É por meio dele que podemos nos socializar preservando a integridade psíquica. Ego é, por conseguinte, nossa “parte psíquica saudável”. Ao pensarmos na pauta de referências de conduta (chão psicológico social) dos sujeitos “super-egoicos”[1][2], encontramos valores ligados à esforço, disciplina, condutas mais repressivas no que toca a limites, hierarquias e aspiração à sabedoria (ídolos- mais velhos). Para Freud o que organizaria um Ego saudável seria a capacidade para amar e trabalhar, ou seja, o horizonte de vida almejado tinha como polo de gravitação a família e profissão. Naquele contexto, fazia sentido pensar em uma psicoterapia de descompressão (que afrouxasse ou descomprimisse egos enrijecidos com necessidade de expansão). Essa psicoterapia era a Psicanálise. Mas se pensarmos no contexto dos Milennialls, isso ainda faz sentido? Àquela altura o chão psicológico social dos pais (boomers) já havia mudado. E o chão psicológico (Ego) dos Millennials é inteiramente diferente: há muito menos tabus com relação à sexualidade, menos limites, repressão e mais condescendência da parte dos pais para com os filhos. Vejam bem, superego como instância simbólica – função paterna ou de quem exercer a função de frear a onipotência do bebê e dar-lhe limite- continua a existir. A repressão sexual como clima introjetado e a contenção como modelo identitário é que caem em desuso. Ao contrário do ego reprimido anterior, o ego millennial pouco tem para se expandir, descomprimir. Falta-lhe contenção. Mas precisamente, falta-lhe contenção interna (auto-contenção). Na AP chamamos esses indivíduos de clientes para terapia de contorno[3]. Essas pessoas, ao contrário das reprimidas de antes, têm dificuldades com obrigações e nas áreas que exijam esforço, empenho e disciplina. E se, por um lado, os horizontes (rumos para a vida) não são mais “dados” (há inúmeras possibilidades), por outro lado, existe o incentivo e a expectativa (familiar e social) do encontro das motivações individuais, que deveriam levar à rumos para vida bem sucedidos. Essa é uma mudança que, paulatinamente, passa a caracterizar o novo “chão psicológico social” ou seja, passa a ser naturalizado. Espera-se que as pessoas tenham dúvidas, que mudem de carreira mas que, ao fim e ao cabo, descubram o caminho que as fará felizes. E isso importa porque se torna, também, crivo para medir sucesso ou fracasso na vida. Estamos falando de pessoas que crescem se percebendo como livres para experimentar (estética e existencialmente), questionar e contestar, mas que têm dificuldade em se encontrarem uma direção das próprias vidas.

Continua no próximo Post [1] Superego é o conceito criado por Freud para explicar a construção dos limites morais civilizatórios que são sentidos/percebidas como naturais. Ele alude à função simbólica do pai na instauração do limite à “exclusividade” da mãe para o bebê como o marco das experiências de frustração e limite que serão básicos para a convivência social saudável do criança mais adiante. Ele atua também, segundo La Planche, como “(...)um juiz ou censor relativamente ao ego. Freud vê na consciência moral, na auto-observação, na formação de ideais, funções do Superego”. Laplanche e Potalis.2001. Vocabulário da Psicanálise. Martins Fontes:497-300. [2] Ver também Bloco VIII-Episodio 2-Adolescência na Era Digital. Parte 1 em:Falando de Psicologia com Cecilia Leite-YouTube [3]Dias, V.S. O perfil do cliente atual em: Vinculo Conjugal na Análise Psicodramática.(2000). Agora. SP p-158-185



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