top of page
  • cecilialeitecosta

LIMITE versus CONTORNO

Se os indivíduos passam a ser “regidos” (em termos de aspirações) pelas convicções na capacidade criativa para traçar rumos para a vida bem sucedidos sabemos, também, que dois eixos motivacionais orientam as direções para vida: necessidade e vontade (desejo). A necessidade (de sobrevivência) restringe as possibilidades de escolha desse rumo, por um lado, mas tem maior probabilidade de oferecer os pilares para um ego com mais contenção interna para buscar satisfazer suas necessidades (e quem sabe vontades), por outro. Isso não quer dizer que Egos estáveis só se formem diante da necessidade. A falta de necessidade, porém, aliada à infinitas possibilidades, pode contribuir para a falta de contenção interna. Vejam bem, não se trata de indivíduos com dificuldades emocionais estruturais e/ou comorbidades que resultem em um ego pouco autônomo. Trata-se de sujeitos potencialmente criativos/saudáveis (eventualmente com vários talentos) que, contudo, se sentem perdidos, não conseguem encontrar um rumo para vida. Se isso antes era resolvido mais facilmente com casamento e profissão (pertencimento almejado na vida adulta), hoje os projetos de vida são, por princípio, instáveis. Isso se tornou, para falar com Wittgenstein, “rocha dura”, percepção consensual “da vida como ela é”. E, afinal, deveriam os pais retomar o padrão repressivo? A falta de limites seria a responsável por uma geração com tanta dificuldade de descobrir o que lhe motiva? Dificilmente o “chão psicológico repressivo” tornará a ser script de conduta. Essa mudança se estruturou como nova forma de vida, i.é, o que é sentido/percebido como “natural”. A geração Boomer/X e Y viveu uma transição nos valores básicos que orientavam as aspirações de vida e isso teve consequências nos novos sujeitos, como em tantos outros momentos de transição sócio-cultural. Se esses pais conquistaram liberdade em vários âmbitos e incluíram sucesso e ascensão no script das aspirações possíveis (sociedades liberais), a geração dos filhos cresce numa atmosfera em que essas conquistas são percebidas como “dadas”. Mas não há ainda manual (pautas de referencia estabelecidas) de como fazer para alcançar tais metas. Os próprios pais não sabem e, portanto, também não oferecem modelos bem estruturados- de “como organizar um rumo pessoal/criativo”- para os filhos. A própria “inflação da criatividade” implica num paradoxo no que tange aos modelos identitários, visto que criação, por princípio, é antítese da imitação. Falamos de uma geração que desde criança tem muitas vontades e poucas obrigações e isso, certamente, teve peso na dificuldade de se sentirem responsáveis pela direção das próprias vidas. E como a nova forma de vida evoluiu para a geração posterior? Esse “diagnóstico cultural” ainda é valido?

Continua no próximo Post

10 visualizações0 comentário

Comments


bottom of page