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  • cecilialeitecosta

CULTURA E EGO

Atualizado: 16 de nov. de 2022

Dando continuidade ao Post anterior, vamos refletir sobre a influência da Cultura no desenvolvimento da identidade considerando Cultura de duas perspectivas: 1) Cultura como meta-narrativa[1] e 2) Cultura como aspecto fundamental para a constituição dos valores individuais e, por conseguinte, do Ego- A segunda referência à cultura reside na compreensão de como ela permeia o desenvolvimento psicológico dos indivíduos. Desse ângulo, ela se desenha de formas mais circunscritas e sutis. A Cultura está presente no “baú menor” que contempla os valores, traços, gostos e estilo da família nuclear e da comunidade de pertencimento. Todos esses ingredientes: aprendizado (social), introjeção dos traços/climas familiares e vivências próprias compõem a identidade. O Ego, por sua vez, exclui do roteiro o que for contraditório com os sentimentos e percepção que temos de nós mesmos, preservando nossa integridade psíquica. Dessa forma, funciona como chão psicológico individual. Ele nos orienta moralmente no mundo. Ainda assim, como discriminar o que é “cultural do que é “genético” na formação da personalidade? Com efeito, tudo é permeado pela cultura e essa asserção é tão complexa quanto trivial. A relevância do debate está nas falhas das teorias mais inclinadas para um lado ou para outro. Algumas privilegiam os aspectos biológicos em detrimento dos culturais e vice-versa, ao tentar entender a conexão entre os eventos previstos no desenvolvimento psicológico e as influências da cultura no resultado desses acontecimentos. Para ilustrar o que isso quer dizer, pensem nas mudanças de humor e comportamento durante a adolescência como exemplos do impacto emocional de alguns eventos previstos para acontecer no desenvolvimento da espécie- que, nesse caso, vêm acompanhados de angústias e ansiedades. Por outro lado, considerem como os “sucessos” ou “fracassos” nas performances sociais, durante a adolescência, nos ajudam a entender o papel da Cultura na formação da personalidade- maior ou menor adequação social e/ou na autoestima. Contudo, para entender como e porquê as pessoas adoecem emocionalmente, é importante entender e abordar a evolução dos sintomas na experiência de cada um. Portanto, é importante lançar mão de ambas as perspectivas a fim de obter um quadro mais detalhado da causa original dos sintomas e da evolução dos padrões disfuncionais. A psicanálise, na minha opinião, ainda oferece o modelo mais completo para entender as causas dos distúrbios emocionais até então, porque não é exclusivamente focada no tratamento dos sintomas. Partindo da premissa que a psicopatologia (transtornos) compreende os adoecimentos de etiologia desconhecida (o que significa que a origem é emocional), ela oferece uma perspectiva mais alargada, além de consistente, para explicar porquê e como as pessoas desenvolvem certos padrões psicopatológicos para evitar o contato com memórias e afetos dolorosos. Esse modelo leva em conta tanto as influências da Cultura quanto da família na formação das neuroses. Por isso partirei da psicanálise como referência para refletir sobre o que ainda é valido e útil na teoria e o que precisaria ser atualizado, na minha opinião. Pois bem, se a cultura atravessa todos os níveis de desenvolvimento do Ego e da formação da personalidade - da pauta de costumes ao “jeito de ser” introjetado dos pais- as transformações culturais não demandariam adaptações na metodologia freudiana para entender os Egos de hoje? Como os Egos do tempo de Freud se distinguem dos sujeitos contemporâneos? Seria suficiente entender os sintomas como produto das formas de sofrer de um período histórico para atualizar a metodologia freudiana? Se essas questões não tiverem sido respondidas, como seria possível avançar nessa discussão? Sem a pretensão de responder diretamente a questões dessa magnitude (tão complexas e controversas), tentaremos abordá-las da perspectiva da formação do Ego. A ideia é levantar alguns temas centrais para essa discussão e usá-los como disparadores para refletir sobre os distúrbios emocionais contemporâneos: 1) como aspectos culturais e biológicos se entrelaçam na formação da personalidade, 2) como se formam as neuroses e 3) quais seriam os manejos e estratégias clínicos que consideramos eficientes para que os clientes encontrem saídas criativas para direções autenticas e integradas para a vida.

Continua no próximo Post [1] Para mais detalhes ver Post 3-Cultura, em Ensaio 7- Influências culturais na formação da identidade. Em:www.ceciliapsicologa.org


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