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  • cecilialeitecosta

CRISE CONJUGAL II: Diagnóstico Estrutural do Vínculo Conjugal

Atualizado: 23 de abr. de 2021

DIAGNÓSTICO ESTRUTURAL DA CRISE CONJUGAL

Com auxílio de recursos psicodrámaticos


Vínculo Conjugal


Estrutura do Vínculo Conjugal (casamento)


Vínculo Compensatório:


Esse é o vínculo que descreve ligação neurótica por excelência. Remete aos vínculos de depêndencia psicológica dos indivíduos que costumam ser delegados à pessoas e objetos ao longo da vida. Nos relacionamentos, esses vínculos são delegados na forma de funções psicológicas aos parceiros, sem a consciência do delegador e sem anuência do destinatário da função delegada. O que marca esse vínculo é o fato de seu aspecto mais forte de encantamento pelo parceiro estar na função que ele exerce para o equilíbrio emocional do parceiro. São relações que, em parte, se parecem com o apaixonamento, pois reeditam a sensação de completude e segurança no delegador da função e tendem a ser sentidas como necessárias e incondicionais para a sua felicidade.


As funções delegadas podem ser:

  1. De cuidado: Isso significa delegar, ao outro, a função de cuidar de si mesmo e dos seus interesses, afetivos e materiais. Essas pessoas costumam ter dificuldade em assumir, de forma mais ampla, seus desejos e necessidades e tendem a se encantar por quem, inconscientemente, se disponha a realizar essa função. Ele ou ela tenderão a se encantar por quem realize essa função, porém, com o passar do tempo, tenderão à exigir e cobrar que o parceiro cumpra essa função, podendo criar um foco de tensão à medida que o parceiro não se sinta mais a vontade ou interessado em manter esse padrão de relação.

  2. De avaliação: Remete à capacidade de se colocar e avaliar as próprias atitudes e comportamentos. Esses indivíduos tendem a provocar no outro o tipo posicionamento, ideia, atitude que não consegue ter. Ou seja, independentemente do tipo de relação, o amigo, colega profissional, parente ou parceiro amoroso tende a avaliar e julgar as situações da vida dele(a), algo que deveria ser função dele(a) realizar. Nos relacionamentos amorosos, se sentirão atraídos por quem cumprir essa função. Como passar do tempo, o peso de ter que avaliar, julgar, aprovar, reprovar todas as atitudes do parceiro pode gerar focos de tensão e conflito e criar clima de hostilidade entre o casal.

  3. De orientação: Nesses casos, os sujeitos delegam aos parceiros a função de de orientar, organizar, estruturar as direções de vida que deveriam ser de responsabilidade dele(a) assumir. A relação se desgasta quando o parceiro da função foi delegada se cansa de ocupar esse posto, criando focos de tensão e hostilidade na relação conjugal. Em todos os casos, se o parceiro depositário da função delegada, por alguma razão, não estiver mais disposto a desempenhar essa função, ele começa se se sentir exausto na relação, ao passo que o parceiro delegador da função tende a se sentir traído, abandonado, desesperado. A desproporção da intensidade emocional é clara na avaliação das atitudes de um adulto, que deveria ser capaz de assumir seus próprios interesses. Ela é proporcional, todavia, ao desamparo do sujeito que se viu, por um curto ou longo período, protegido da necessidade de enfrentar essa dificuldade emocional.

Manejo:

Consiste em esclarecer que esses mecanismos sempre existiram, de forma pouco consciente, em ambos os parceiros. Esclarecer como funciona a delegação de funções psicológicas e as funções de complementaridade psicopatológica.


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Vínculo de Conveniência:

Abrange todas os aspectos relativos à formação do vínculo conjugal, que excluam a pessoa ou personalidade do parceiro e constituam o foco de atração e encantamento de um dos parceiros ou dos dois e/ou constituam o aspecto crucial para a decisão de se casarem.

Por exemplo, o suprimento de uma privação grande o suficiente para que os outros vínculos sejam secundarizados: estar a muito tempo sem se relacionar, desejo de maternagem, etc.. ou algum laço capaz de vincular esse casal de maneira mais estável que os outros vínculos constitutivos do vínculo conjugal: etnias, religião etc.

Eles estabelecem, por conseguinte, um vínculo de conveniência encoberta que, quando satisfeita, pode esvaziar a relação. Isso porque, sem ela, não haveria, de fato, um projeto de compartilhar a vida a dois.[1] Uma conveniência encoberta acontece, por exemplo, quando o desejo de ser mãe é soberano à constatação de que, salvo por isso, não haveria um projeto de vida em comum forte o suficente para transformar a relação num casamento. Em um outro, o foco de atração em comum é a crença religiosa. Com o passar do tempo, esse casal descobre que não têm tantas afinidades no jeito se ser, levar a vida ou, até, em muitas convicções morais.

A marca registrada dessa crise conjugal é o “desinteresse súbito”, que decorre do esvaziamento amoroso de um ou de ambos os parceiros, quando a conveniência é resolvida. Essa é a viga mestra para o entendimento e resolução da crise desse casal.

Manejo:

  1. Esclarecer a importância da conveniência para o projeto de casamento.

  2. O sentimento de gratidão com relação ao parceiro que supre essa conveniência é muito próximo ao sentimento de paixão.

  3. Esclarecer a relação de causa efeito entre a resolução da conveniência (privação) e o esvaziamento amoroso da relação.

Um outro braço da crise circunstancial é a que Dias denomina:


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Crise de conveniência sobre os bens e frutos do casal:

São casos muito comuns e se caracterizam pela competição de ambos os parceiros por quem tem mais direito e importância nas escolhas e decisões dentro da relacão conjugal:

  • Quem tem mais direito de usufruir dos bens produzidos pelo casal;

  • Quem tem mais importância nas decisões e projetos desse casal ou família.


Manejo:


  1. Esclarecer que, quando esses aspectos da relação não estão claros entre os parceiros, podem gerar competições que nada mais são que disputas de poder. Exemplos comuns são as decisões referentes à escolarização dos filhos, às saídas de férias e até as saídas para lazer ou qualquer outra coisa. Esse casal pode deteriorar a relação em querelas cotidianas que, no fundo, escondem frustrações pela sensação de demérito ou desqualificação.

  2. Estabelecer um diálogo franco sobre os aspectos da relação até então encobertos, para que deixem de fazer uso secundário da situação para atuar ressentimentos, mágoas, despeitos ou desejos de vingança inconscientes (as disputas, nesses casos, costumam ser por razões supérfluas, que escondem o mal-estar evitado).

  3. Ajudá-los a entender que a relação conjugal também é, nesses casos, uma relação societária.

  4. Ajudar no estabelecimento de alguns critérios consensuais que funcionem como referência para a essa sociedade


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Diagnóstico Estrutural da Crise


Diagnóstico da Viga Mestra

Dias criou um diagrama, conhecido como “Tenda” em função da semelhança com uma tenda de circo, para diagnosticar qual é a viga mestra do Vínculo Amoroso e do Vínculo Conjugal. Assim como numa tenda de circo, se a viga mestra de sustentação da Tenda é rompida, a estrutura desaba. Se a viga rompida é auxiliar, ela muda a configuração da Tenda, mas não necessariamente a faz desmoronar.


Estrutura do Vínculo Conjugal (casamento)


 

[1] Não incluirei os casos em que a conveniência é explícita, porque, na maioria das vezes, não configuram casos de crise conjugal para terapia de casal; seja porque o interesse é conhecido e não deflagra conflito para o parceiro da conveniência, seja por ser uma conveniência cúmplice que pode até ser pouco ética, mas não neurótica.



 

> Continua no próximo post


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