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  • cecilialeitecosta

CRISE CONJUGAL I: A Estrutura do Vinculo amoroso

DIAGNÓSTICO ESTRURURAL DA CRISE CONJUGAL

Com auxílio de recursos psicodrámaticos


Introdução


CASAMENTO = VÍNCULO CONJUGAL = PROJETO DE VIDA A DOIS


A proposta é apresentar a metodologia da Análise Psicodramática[1], para tratar crises conjugais. Para tanto, contamos com três esquemas centrais para compreender e avaliar a crise conjugal, além de recursos que auxiliam para o disparo ou descarga de emoções encobertas nos discursos dos pacientes.


O Vínculo Conjugal se organiza a partir de três vínculos de sustentação: o amoroso, o compensatório e o de conveniência. O trabalho da terapia de casal se divide em dois momentos:


  1. Pesquisar como se deu a instalação e evolução do vínculo amoroso. Em alguns casos, ele passou pela fase do apaixonamento. Independente disso, todo vínculo amoroso passa pela etapa de idealização do parceiro, que conhecemos como Encantamento. O objetivo do terapeuta, nessa etapa, será começar o trabalho de “desidealização” do parceiro e, por conseguinte, de amadurecimento da relação. Essa etapa é conhecida como Fase do Desencanto.

  2. Pesquisar a Viga Mestra[2] do Vínculo Conjugal, para a resolução da crise[3].


Vínculos Conjugais


Vínculo Amoroso:

O vínculo amoroso constitui a atração erotizada entre os parceiros do casal e é o vínculo que sustenta a relação de amor. O estado de encantamento pode ser ou não de apaixonamento. Se ele vem acompanhado do apaixonamento, acreditamos que ele reedite a relação diádica do bebê com a mãe, o que quer dizer que vem acompanhado da sensação de intensidade e completude e com a expectativa de amor incondicional que o bebê ou criança sentiu.


Ele é constituido por três possíveis focos de atração:

  1. Atração sexual: Atração física, pelo contato com a pele e pela sintonia física com o outro.

  2. Atração afetiva: Atração que acontece em função das afinidades entre o casal: estilos de vida e de comportamento, personalidades, formas de se expressar.

  3. Atração intelectual: O foco da atração está na forma de pensar, de ver a vida, nos valores morais ou espirituais que organizam o modo das pessoas conduzirem a si mesmas e a vida.


Estrutura do Vínculo Amoroso


Instalação do Vínculo Amoroso


O primeiro passo é pesquisar qual o vínculo de atração para cada um dos parceiros, assim como qual o vínculo de encaixe mútuo e sintônico entre eles: ele será o vínculo mais importante ou a Viga Mestra de sustentação do Vínculo Amoroso.


Por exemplo, João se encanta pela beleza de Maria e a aborda numa festa. Maria se encanta pela inteligência, articulação e pela forma de pensar e ver a vida do João. Eles começam a sair e descobrem que pensam a vida de jeito muito parecido e que se admiram. Se encantam, um pelo outro e começam a namorar. Embora a origem do foco de atração de ambos tenha sido diferente: o foco de atração de João é o sexual e o da Maria, o intelectual, a grande cumplicidade e sintonia[4] do casal está nos valores e na forma de ver e pensar a vida: foco de atração intelectual.


O foco de atração sintônica se espalha pelos outros aspectos da relação e os contagia. Independente de o Encantamento ser acompanhado da paixão, sua característica mais importante é a idealização do parceiro. Nesse momento, a pessoa é vista e sentida como perfeita e os outros aspectos constitutivos da relação são contagiados por sentimentos de ternura e admiração: sentimentos diretamente ligados à erotização.


No exemplo acima, a cumplicidade e sintonia intelectual contagiam os outros aspectos da relação e tendem a ocultar as dissonâncias entres os parceiros.


A convivência ou a necessidade de estabelecer um outro patamar para a relação, qual seja, a de vida a dois, faz com que as diferenças ou aspectos negligenciados (empurrados para debaixo do tapete) venham à tona, criando uma atmosfera tensa que esconde frustrações e desapontamentos com relação o parceiro.


Esse momento sempre acontece numa relação mais duradoura e pode ser detectado e trabalhado ou evitado pelo casal. O foco do trabalho, nessa fase, é ajudar a criar um espaço continente de escuta para que possam se expor de forma franca, mostrando seus aspectos neuróticos, fragilidades ou expectativas não correspondidas.

Com o passar do tempo, as diferenças antes secundarizadas podem gerar focos de tensão na relação. Se o casal chegar nesse momento para a terapia, o foco sintônico, responsável pelo encantamento entre eles, é a chave para para compreender como e o grau de gravidade da crise que se instalou: se a crise estiver em um foco que não seja o sintônico, ela é menos grave. Se estiver localizada na viga mestra[5] da relação, é uma crise mais grave.


Nos casos de desejo de recuperar e investir na relação, ambos reiteram a escolha de estarem juntos e conseguem criar um clima de intimidade, com fases de reencantamento. A proposta de relação tende a ser menos intensa, porém, mais sólida e madura. Se as frustrações e decepções são evitadas, essa relação pode se transformar num “ring” de acusações mútuas que contribuem para atmosfera de hostilidade entre o casal numa escalada, às vezes, sem volta. Nesses casos, as relações tendem a se tornar relações de ódio entre os parceiros. Se elas são ignoradas, tendem a criar uma atmosfera de dissimulação em que o acordo tácito é que ambos tenham uma relação formal e resolvam seus desejos e necessidades sem compartilhamento. São relações que caminham para um estado e indiferença de difícil recuperação, dependendo do estágio de deterioração em que a relação se encontre.


Até então, estamos considerando que o vínculo fulcral de sustentação da relação é o vínculo amoroso.

O Diagrama abaixo resume a instalação e evolução do Vínculo Amoroso:


Manejo:

Quando a viga mestra do vínculo conjugal está no vínculo amoroso, o trabalho da psicoterapia será pesquisar do foco de atração de cada um dos parceiros e o foco sintônico para a constituição do vínculo amorso. Em seguida, trabalhar a fase de Desencanto. Essa etapa é fundamental na terapia de casal. A pesquisa do terapeuta sempre passa pelo fase do desencanto. Isso porque, mesmo que a viga mestra da relação esteja em outro vínculo, que não o amoroso, precisamos investigar se há desejo, por parte do casal, de reinvestir na relação e recuperar o casamento. Se a conclusão for positiva, a relação tende e ter momentos de reencantamento. Não será tão intensa quanto o apaixonamento inicial, mas será mais madura. Isto é, uma relação em que já puderam se expôr francamente, falar das neuroses e fragilidades e tirar do outro e da relação, a expectativa idealizada.


Um recurso psicodramático eficiente, nessa fase, é a Inversão de Papéis. É importante salientar que a Inversão de papéis cumpre uma função específica: fazer com que cada um experimente se sentir no lugar do outro no que concerne aos sentimentos dele. Se bem sucedida, ela faz com que o parceiro se descole, momentaneamente, do próprio sofrimento e imagine como o outro está se sentindo. A técnica será descrita na sessão final do trabalho.


 

[1] Análise Psicodramática é a metodologia desenvolvida por Dias, V. S (Escola Paulista de Psicodrama. São Paulo.Brasil). Ela compreende:

Fase cenestésica: compreensão fenomênico-psicológica da formação do mundo sensorial e sua correspondência com o desenvolvimento da área intuitiva no ser humano;

Fase psicológica: desenvolvimento do ego e amadurecimento psicológico

Decodificação de sonhos: recurso para o trabalho de aprofundamento clínico individual

Técnicas adaptadas do Psicodrama moreniano: recursos para o manejo clínico das diferentes fase do desenvolvimento e para mediação crises.

A metodologia da Análise Psicodramática é orientada para o atendimento clínico individual e para terapia familiar e de casais. As técnicas, contudo, podem ser adaptadas para grupos ou atos terapêuticos sem objetivo de aprofundamento.


[2] O conceito de Viga Mestra será explicado na sequência.

[3] A distinção é didática. Na prática clínica, as duas pesquisas acontecem paralelamente.

[4] O termo sintonia, nesse contexto, é usado na sua acepção psicológica, como harmonia: modo semelhante de pensar, de sentir; em que há acordo, equilíbrio ou concordância: ele estava em sintonia com ela e/ou, no sentido figurado, como sinônimo de reciprocidade; simpatia que faz com que alguém se aproxime de outra pessoa: eles estavam em sintonia (Aurelio online)

[5] Usamos o termo Viga Mestra para nos referir:

ao foco sintônico de interesse e encantamento entre os parceiros;

ao vínculo de encaixe sintônico na constituição do vínculo conjugal


 

> Continua no próximo post


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