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  • cecilialeitecosta

CENTENNIALS ZEITGEIST- QUESTÕES AMBIENTAIS E LUGAR DE FALA

Atualizado: 16 de fev. de 2023

Dando continuidade ao Post anterior, a geração digital neo-nativa é pós-globalizada. Ela lida com as consequências das mudanças climáticas e dos avanços tecnológicos- mudanças nos contratos e na relação com o trabalho- na área social, e com novas formas de expressão e de experimentação de si, na vida privada. Centennials são considerados uma geração uma geração engajada, em contraposição aos Millennials que teriam sido mais individualistas. Esta visão que talvez tenhamos sustentado há algum tempo, na primeira versão desse ensaio, mas que não nos parece justa agora[1], ao menos da perspectiva psicológica. Centennials são engajados de uma forma diferente da dos Boomers. A primeira questão social consensual é a mudança climática. Eles são comprometidos em construir um mundo melhor, em geral, por meio de “micro-politicas”: projetos sociais, preservação da natureza e encorajamento de empreendimentos com compromisso social. Além disso, são sensíveis aos direitos das minorias, e esses parecem ser os dois grandes temas sociais que, quase consensualmente, fazem as pessoas se sentirem emocionalmente conectadas. Essas atitudes/comportamentos empáticos, entretanto, são resultado de mudanças nos comportamentos e valores dos Millennials. Estes últimos viveram as ansiedades de não terem um “chão psicológico estabelecido” (modelos a serem seguidos ) e de estarem construindo um novo mundo que não contaria com isso novamente, ou seja, com estabilidade de modelos a serem seguidos. Mudanças e transições trazem ansiedades e requerem muito energia até uma readaptação. A personalidade dos Centennials, em certa medida, e resultado da expansão dos Millennials. A geração dos jovens de hoje vive em um mundo sem fronteiras, no qual tudo e conectado e, nesse sentido, não tem muito a ser expandido. Voltando à clínica, grosso modo, no que tange ao modo como eles se sentem emocionalmente com relação a esses aspectos culturais, seria plausível dizer que a sintonia/ empatia vem;1) de como o mundo vai sobreviver ao aquecimento global- e , por conseguinte, seus filhos e as gerações futuras; e 2) da ressonância com experiências internas que são difíceis de definir ou admitir. A natureza compartilhada da experiência online permitiu e fortaleceu a formação de pequenos grupos. O critério para pertencer a esses grupos é o compartilhamento dificuldades emocionais. Dessa forma, o comportamento/ experiencia antes associado à vergonha ou exclusão gradativamente se torna parte da autopercepção. São grupos se definem por minorias identitárias[2]. Portanto, o sofrimento emocional é o elemento em comum, que se torna uma causa de pertencimento, por outro lado de engajamento. Esse sentido de pertencimento funciona como autoafirmação e ajuda a fortalecer o Ego. Pode-se dizer que funcionam como uma espécie de “lugar de fala” no sentido de que são diferentes do pertencimento psiquiátrico, por exemplo. Esse último dá as pessoas lugar de pertencimento e alivio, especialmente quando estão passando por grande sofrimento sem explicação ou tratamento disponível, mas não são discursos/experiências em primeira pessoa. Dessa forma, pertencer a uma causa em saúde mental funciona como tomar partido em uma luta por respeito às diferenças (singularidades) e, nesse sentido, seria mais alinhado ao que comumente associamos às causas sociais. Alguns exemplos na nossa área são: 1) No Espectro Autista- autistas de alto-funcionamento começaram a afirmar que não têm um distúrbio emocional e, sim, que são diferentes – especialmente dos anos 90 em diante, depois que a Síndrome de Asperger foi incluída no DSM 4; 2) Mais recentemente, algo parecido vem ocorrendo na comunidade LGBTQIAP+. O grupo vem se expandindo e incluindo mais pessoas no espectro da diversidade, com reivindicações por respeito e inclusão. Esses são resultados de conquistas dos Millennials, hoje vistas como naturais. Se colocar no lugar do outro com relação às questões da saúde mental (déficits/desabilidades) se tornou, também, uma atitude socialmente esperada. Aliás, a palavra empatia se popularizou como sinônimo de ser gentil com os outros. Assim, vemos uma paulatina mudança para maior tolerância e simpatia com as experiências/condições individuais: casamento homoafetivo, igualdade de gênero, somam-se às velhas batalhas sociais como anti-racismo, direito das mulheres, etc, ao menos nas sociedades liberais. Em resumo, no que toca ao Espírito da época (Zeitgeist), o que conecta emocionalmente as pessoas de hoje são as questões ambientais e direitos. E como isso tudo está relacionado aos novos Egos, emoções e ansiedades?

Continua no próximo Post [1] Não queremos fazer afirmações ou tirar conclusões sobre questões que pertencem à outras áreas de expertise. e, portanto, ultrapassam nosso conhecimento e competência. Nossas ideias são fundamentadas em observações clínicas e, em grande parte, apoiadas na metodologia da Analise Psicodramática com o intuito de oferecer reflexões plausíveis sobre os sofrimentos e distúrbios emocionais contemporâneas , que sejam acessíveis a qualquer tipo de publico. [2] Vamos nos concentrar em grupos associados a saúde mental e/ou distúrbios emocionais. Primeiro, porque o tópico geral relativo ao modo como a internet e as mídias sociais impactaram os comportamentos excede o nosso conhecimento. Em segundo lugar, para manter o foco no objetivo do ensaio, qual seja, entender como os novos Egos e sintomas são, em certa medida, reflexo das mudanças culturais.


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