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  • cecilialeitecosta

CENTENNIALS/Z- GERAÇÃO “FAÇA POR CONTA PRÓPRIA”

Dando continuidade aos Posts anteriores, vamos retomar a perspectiva sociocultural[1]. Como dissemos, uma consequência das mudanças culturais na subjetividade foi uma mudança no sentido básico de que estabilidade emocional vinha junto com estabilidade material. O novo “mundo instável” pode ser mais bem descrito por propósitos transitórios (tanto os caminhos profissionais quanto os relacionamentos afetivos) de indivíduos mais expandidos- cheios de informação, possibilidades de interação online. Também comentamos que outro aspecto dessa mudança cultural e subjetiva está na forma como as pessoas sentem e percebem o sucesso profissional, no sentido de que ele não deve mais ser o caminho para promover a felicidade , como talvez tivesse sido antes, mas deve ser, ele próprio, promotor de felicidade pessoal/satisfação existencial[2]. Por fim, vimos que esse chão psicológico instável está conectado, em algum nível, às novas formas de ansiedade. A fim de falar mais especificamente sobre elas, vamos, brevemente, mencionar dois aspectos presentes nas sociedades atuais que estão associadas ao modo como as pessoas se percebem e se sentem emocionalmente conectadas. Os Centennials (geração Z- “Zoomers”- nascidos entre 1995 e 2010) são a geração de adultos jovens e adolescenctes contemporâneos. Na época em que nasceram a internet já tinha sido incorporada à vida cotidiana, i.e, às profissões e relacionamentos sociais e afetivos. Não seria exagero dizer que já tinha sido incorporada à identidade. Na realidade do Brasil, a última faixa etária dos Millenials (nascidos no início dos anos 90) viveram a migração da aspiração por estabilidade (serem servidores públicos) para os novos contratos de trabalho, na sua maioria relacionados as áreas de software seguindo a tendência mundial. Paulatinamente, observamos a mudança da aspiração por estabilidade para o tornar-se dono do seu próprio negócio (empreender). O caminho para isso, em geral, seria oferecido por canais de busca online, tais como Google, que oferecem manuais com os passo-a-passos. Grosso modo, tutoriais ensinam quase tudo, e modelos de negócios ensinam como empreender. Esse contexto teve grande influência na forma como as pessoas começaram a perceber o papel delas no gerenciamento das próprias carreiras e no papel designado aos especialistas. Um aspecto sutil, porém, interessante, é como uma nova cultura do “faça por conta própria” foi incorporada pelas novas gerações, a despeito das diferentes áreas de atuação e/ou interesse. Embora não diretamente associado à direção na vida, esse despretensioso aspecto teve um papel no desenvolvimento de novas formas de vida e de um novo chão psicológico social, i.e, do que é percebido como dado/natural para as novas gerações. Portanto, ser seu próprio chefe, trabalhar em algo que seja gratificante e associado aos seus valores e “fazer por conta própria”(pergunte ao Google em caso de alguma dúvida), são a tônica das novas personalidades e que motiva os rumos para a vida, dos Centennials. Bem, dessa perspectiva, não me parece que tal contexto contribua para os jovens se sentirem mais perdidos (como eu talvez tenha concordado há alguns anos, na primeira versão desse ensaio). Os adultos de hoje são nômades digitais. Eles trabalham de casa, moram em diversos lugares por curtos períodos e muitos se encaixam no que é chamado de Job hopping (sigla em inglês que significa mudar de emprego em curtos períodos, na sua maioria, na busca por qualidade de vida). Como disse Rafaela, para a Folha de São Paulo, em outubro de 2022: Eu não me vejo trabalhando na mesma empresa até meus 44 anos. É algo que me dá até ansiedade porque... e o mundo lá fora? E as outras oportunidades[3]?". É curioso ver como os valores se inverteram em algumas décadas. E, naturalmente, tentar coisa novas, começar novos empreendimentos e trabalhos traz ansiedades esperadas que, contudo, não devem ser consideradas patológicas em si. Elas são proporcionais aos novos desafios e riscos. Continua no próximo Post [1] Estamos alternando perspectivas culturais e clínicas a fim de fazer a conexão entre eles, e as novas formas de ansiedade. [2] Para mais detalhes ver Post 9-Transição dos Millennials para Centennials. Novas aspirações de vida. [3] Entenda o que é 'job hopping' e por que jovens aderem mais ao movimento. 31 de outubro de 2022. In Folha de São Paulo.


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