top of page
cecilialeitecosta

ANGÚSTIAS NA ADOLESCÊNCIA CONTEMPORÂNEA-RELAÇÕES VIRTUAIS- INTIMIDADE, INIBIÇÕES

Do ponto de vista clínico, a mudança estrutural significativa nos indivíduos de hoje é que eles são menos angustiados por repressões sexuais e mais angustiados pela falta de contorno e pela dificuldade de encontrar direção/propósito para a vida. O pano de fundo, que coincide cronologicamente com o advento da vida na rede, é a infância muito exposta à ambiguidades (pela multiplicidade de referências e flexibilidade na criação). Ser um adolescente normal é se sentir titubeante no terreno do erotismo/sexualidade, é se tornar expert em teorias e argumentos que justifiquem a necessidade de experimentar- e eventualmente se expor à situações de risco-, é precisar pertencer. Intimidade e erotismo são sensações e palavras novas nas vivências próprias deles. A adolescência também é a fase da idealização – etapa necessária para o florescer da sexualidade e o alcance posterior da sintonia erotica/sexual[1]. A idealização percorre todo o desenvolvimento da Identidade Sexual e se completa ao fim das etapas de experimentação erótica/sexual com corpos e energias eróticas diferentes e complementares. Se as angústias relativas à cada uma dessas etapas não é vivida, os adolescentes têm, obviamente, mais chance de ficarem psicologicamente estacionados um uma dessas fases, e isso se refletirá na dificuldade de estabelecer relacionamentos mais amadurecidos. Vida e relações virtuais são uma parte considerável da realidade atual. Elas facilitam a “desinibição” porque permitem a descoberta de afinidades- parte e ingrediente importante da intimidade- sem a necessidade de contato. Inibidos e pessoas com dificuldades de contato social (fóbicos), por outro lado, são solo fértil para o aumento da expectativa ansiosa. Isso porque o contato físico é um ingrediente importante para o desenrolar do erotismo: para a descoberta do próprio prazer sexual, do prazer do outro - sintonia erótica- e para a espontaneidade no sexo. Nos casos de ansiosos(as) /inibidos(as), quanto mais o contato físico for adiado, mais chance tem de se tornar um fator ansiogênico para o encontro sexual/amoroso ou precursor de ansiedade. Isso pode acontecer desde o flerte/paquera- etapa de “aquecimento” importante para escalada erótica- até o ápice do sexo. Por exemplo, em pessoas fóbicas ou com sintomas cujo pano de fundo seja rejeição (clima internalizado), as fantasias inerentes aos jogos de sedução podem ser interpretadas e/ou reforçar o sentimento de rejeição. Isso não é intrínseco à natureza das relações na rede e, sim, ao sentimento de (auto) rejeição das pessoas. Portanto, a idealização define a atmosfera psicológica adolescente e é ingrediente compulsório do interesse erótico e da paixão. A vida relacional atual é, em grande medida, virtual. Suas novas facetas terão que levar isso em conta. Em que pese essa realidade, a falta de contato físico e de convivência (checagem dos relacionamentos na realidade) pode, em alguns casos, adiar/dificultar o amadurecimento psicológico, tanto no que concerne à espontaneidade sexual, quanto às etapas para a construção da intimidade, necessária para o compartilhamento de projetos de vida.

Continua no próximo Post





[1] Para maiores detalhes ver: Ensaio 3- Desenvolvimento da Identidade Sexual., ensaio 4- Bloqueios no desenvolvimento da Identidade Sexual, Ensaio 6- Angustias na vida sexual, em: www.ceciliapsciologa.org. Bloco VIII-Adolescência na era digital parte 2. Em falando de Psicologia com Cecilia Leite. Em: YouTube

7 visualizações0 comentário

Comments


bottom of page