top of page

ANGÚSTIAS NA ADOLESCÊNCIA CONTEMPORÂNEA-ATAQUES E TRANSTORNO DE PÂNICO

  • cecilialeitecosta
  • 8 de dez. de 2021
  • 4 min de leitura

A adolescência é a fase do surgimento da energia sexual, do desenvolvimento da Identidade sexual e da mudança do “chão psicológico infantil para o “chão psicológico adulto”[1]. É uma fase vulnerável por natureza, de grande intensidade de sentimentos, idealização e cujo atravessamento cultural mais significativo é a necessidade de ser aceito e pertencer aos grupos. As inibições, hesitações e inseguranças típicas da adolescência continuam a existir. No contexto atual, elas convivem com a vida virtual e com a velocidade da (des)informação. Da perspectiva psiquiátrica -diagnóstico de síndromes-,: “(...)ataques de pânico são crises de ansiedade acentuadas, classificadas a partir da quantidade de sinais associados concomitantes ao evento”[2]. Para a AP, de uma perspectiva psicodinâmica, ataques de pânico remetem à sensação súbita de perda de referência -da identidade- e precisam ser lidas dentro quadro mais amplo da psicopatologia estrutural do paciente. Marcos[3], por exemplo, procura terapia aos 17 anos, depois de um incidente de explosão agressiva, seguido de pânico. A situação é elaborada na terapia e algumas estratégias comportamentais são treinadas. Marcos, contudo, volta a ter ataques de pânico em situações/encontros sexuais com alguns parceiros. A medida em que a terapia é aprofundada, emergem situações e conflitos ligados ao contato com a intimidade. Uma vez que o conflito na origem das situações angustiantes se torna consciente, pode ser trabalhado na esfera psicológica e, paulatinamente, deixar de ser descarregado somaticamente. A partir de então, as situações que eventualmente remetam à memória do conflito, deixam de ser gatilho para “sinal de alerta da consciência” e, por conseguinte, deixam de acionar os mecanismos de defesa anteriormente associados a ele (crises de ansiedade). Esse é um exemplo de como os ataques de pânico de Marcos funcionavam como descarga somática de conflitos ligados à sua identidade sexual que, no final das contas, estão sempre associados à bloqueios nos modelos femininos e masculinos da infância. Juliana, por sua vez, busca terapia aos 18 em um franco quadro de transtorno de pânico: asfixia/falta de ar, taquicardia, vertigens, em suma, um quadro cuja sensação mais relevante é a de perda literal de chão. Em termos psicodinâmicos, o transtorno de pânico se instala em situações de perda do chão psicológico. Trata-se de um quadro psicopatológico que, comumente, acontece entre 17 e 24 anos porque essa é a fase que, simbolicamente, marca a passagem para vida adulta. Nesse estágio, um jovem adulto, em geral, traz para a terapia as angústias relativas à identidade sexual e à sexualidade (se for o caso), as angústias neuróticas (relativas às vivências infantis, quando forem o caso) e as angústias existenciais, que aparecerem nos percalços no direcionamento da vida adulta. É um momento de grande carga emocional, que será ultrapassado em função da equação/resolução dessas angústias. A psicoterapia de Juliana ocorre em dois eixos: por um lado, a decodificação de sonhos traz memórias antigas e conflitos ligados ao universo feminino, no caso dela, da infância. Na medida em que enfrenta as angustias neuróticas- bloqueios ligados ao modelo feminino-, existenciais- ligadas à nova identidade- e circunstanciais- às condições da nova profissão-, ela organiza, paulatinamente, uma identidade adulta saudável. Enfrenta desafios, sobretudo os ligados à incerteza sobre o futuro, mas as crises de pânico, por ora, cessam. Elas podem reaparecer mais adiante, se o chão psicológico ora definido lhe faltar abruptamente. As angústias circunstanciais continuam e continuarão a ocorrer ao longo da vida. A superação dos sintomas ligados ao pânico virá na esteira da resolução dos climas e conflitos na base do bloqueio dos modelos. O processo de fortalecimento egóico não é apenas de construção, salvo se o termo construção for entendido no sentido trivial do termo- identidade é um processo continuo de construção. O sucesso terapêutico está na Integração do Ego- um mergulho profundo que tem como consequência um processo de confronto, conciliação e, finalmente, de reparação. Esse é o caminho para a equacionar os sintomas ligados à neurose, rumo um Eu integrado: que se assume, sabe o que quer, o que gosta energia feminina) e tem combatividade para buscar satisfazer seus desejos e necessidades energia masculina), de forma genuína. Por fim, a sociedade atual é constituída por múltiplas referências e modelos de conduta desde a infância[4]. Isso não é decisivo, mas tem impacto no desenvolvimento de identidades expostas permanentemente à climas ambivalentes ao longo da infância como, por exemplo, no caso de crianças que são envolvidas nas brigas entre os pais (se sentem constrangidas a tomar partido de um dos lados). Esses são exemplos de atmosferas que podem contribuir para um solo de insegurança íntima, gerando personalidades hesitantes. Como dissemos anteriormente, a puberdade é um momento em que chão psicológico está em profunda transformação (mudança cenestésica) e, por conseguinte, um momento hesitante por definição. Dar a atenção psicológica apropriada para quadros de ansiedade nesse momento pode evitar futuras eclosões de pânico na passagem para a vida adulta.

Continua no próximo Post





[1] Para maiores detalhes ver Ensaio 3- Desenvolvimento da identidade sexual e Post 5 Angústia Existencial, In: Ensaio 5- Angústias. In: www.ceciliapsicologa.com. Ver também Bloco IV- Episódio 2- Angústias na adolescência. Parte 1 e Episodio 3- Angústias na adolescência. Parte 2. In: Falando de psicologia com Cecilia Leite. In: YouTube [2] DSM 5.Manual diagnóstico e Estatístico de Transtornos mentais. 300.01 (F.41.0) [3] Os nomes usados são fantasia (criados) e os exemplos são baseados em casos clínicos. As informações são genéricas e não expõem particularidades de qualquer caso. Nosso objetivo é que sirvam de ilustração para semelhanças e diferenças entre diagnósticos sindrômicos e psicodinâmicos. [4]Para mais detalhes ver Ensaio 7-Influências culturais na formação da identidade. In: www.ceciliapsicologa.org

 
 
 

コメント


Office: 700 Jardim Botânico St. / Room 422

Office Hours: Mon - Fri: 9am - 8pm
 

Email: cecilialeite.costa@gmail.com
 

Cell: +55 21 98887-7502

© 2021-2022 - ​Psychologist Cecília Leite

Obrigada!

bottom of page