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  • cecilialeitecosta

ANGÚSTIAS CONTEMPORÂNEAS GÊNERO- FEMININO E MASCULINO II

Atualizado: 20 de out. de 2021

Dando sequência ao Post anterior, Feminino e Masculino são categorias tão velhas quanto a humanidade e, certamente, mais amplas do que papéis e comportamentos associados a gêneros. Para o Taoismo, Yin e Yang[1] (elementos Feminino e masculino) se complementam formando um todo: “(...) O principio masculino é associado ao Sol, que representa a luz, brilho, ação e combatividade; o feminino corresponde à Lua, que representa passividade, recolhimento a reflexão. A força, iniciativa e liderança masculina são balanceados pela delicadeza, resiliência e suporte femininos[2]”. Para o Hindusimo: “Somente quando Shiva (metade direita, masculina) se une à Shakti (metade esquerda), Deus adquire a capacidade de se tornar Senhor do Universo[3]”. Para o Judaísmo Deus é masculino, mas Shekhinah representa seu aspecto feminino e, no Cristianismo, não obstante as imagens associadas ao masculino, Deus transcende gênero e contempla as virtudes morais encontradas em homens e mulheres. Para Freud, Winnicott e outros psicanalistas, a energia masculina se refere ao ato que, de início, é ato de sobrevivência (sucção do peito) e, paulatinamente, se desdobra em agressividade/combatividade para a vida. Para a AP e algumas correntes da psicanalise[4][5] ,o elemento masculino está associado simbolicamente à penetração e, por isso, ao sexo masculino, pois a analogia tem como referência a reprodução da espécie. Feminino é o elemento passivo. Sua condição inicial é o receber (o alimento-leite-, ato de sobrevivência). Essa energia se desdobra nas ações de acolhimento, no contato interior, na sensibilidade e intuição[6][7][8]. O elemento feminino está associado ao receber e ao ser penetrado e, por isso, simbolicamente, ao sexo feminino. A complementaridade entre as duas energias se expressa no elã/energia vital. Seres humanos nascem com combatividade e sensibilidade (masculino e feminino) independentemente do aparto genital. A boa organização/ complementaridade entre os dois princípios terá papel fundamental em identidades sexuais/ personalidades integradas. Portanto, independentemente da inclinação teórica, feminino e masculino são categorias úteis. Elas definem “modos” de ser. Se é verdade que “jeitos masculinos ou femininos” podem ser interpretados como intrínsecos ao sexo biológico, dizer que existem mulheres masculinas (personalidades combativas) e homens sensíveis não implica viés ideológico. Ao contrário, uma personalidade, independentemente do sexo, sem combatividade (por ex, alguém que engole muitos sapos) ou sem energia feminina (alguém que desconhece sua vontades e necessidades) nos dá dicas importantes de identidades sexuais em desequilíbrio, bem como do porquê de certos sintomas e não outros. O espectro ou variação feminino e masculino ainda é o referencial mediante o qual nos identificamos, nos opomos ou nos consideramos “a meio caminho” na relação com a nossa identidade sexual. E, obviamente, gênero se desenvolve nas interações e, por conseguinte, na cultura. Gênero é psicológico. Energias masculinas e femininas nos ajudam a compreender e apreciar a identidade/personalidade numa linha estética e existencial mais nuançada. E isso não nos parece excludente com qualquer linha de pesquisa. Associar geneticamente comportamentos e papéis aos sexo masculino e feminino, por outro lado, é uma hipótese delicada. Papeis estão relacionados a direitos, que são uma invenção social. Preconceito e discriminação, por sua vez, são comportamentos sociais que trazem sofrimentos reais. Só faz sentido tornar desejos e preferencias sexuais/eróticas patológicas se elas trouxerem angústia neurótica (patológica). Ainda assim, o importante é entender a natureza das angústias e não incorrer em juízo de valor sobre elas. Tentar entender a evolução do comportamento humano como espécie é relevante e necessário. Pressupor a reprodução como critério para avaliar sua evolução da espécie é que, talvez, tenha se tornado controverso e precise ser discutido com mais profundidade De fato, qualquer espécie precisa se reproduzir para sobreviver. No caso dos seres humanos, contudo, o avanço da tecnologia e as transformações culturais criaram outras possibilidades de reprodução- que não a heterossexual- e tornaram possível aos casais de diversas orientações sexuais e condições identitárias realizarem o desejo de formar famílias e/ou projetos de vida compartilhados.

Continua no próximo Post

[1] Escolhemos exemplos da religião porque foram e são responsáveis por mitos de origem da humanidade e pelos esforços em entender o lado emocional (não racional) da natureza humana. Já os autores psicanalíticos escolhidos se destacaram pelas tentativas de integrar os impulsos e o lado irracional da natureza humana ao pensamento cientifico. O lado irracional da natureza humana foi batizado por Freud de inconsciente, a metodologia para compreendê-la Psicanálise e a compreensão das origens do funcionamento inconsciente foi denominada psicodinâmica. [2] Vigo,J. The body in Gender Discourse. The fragmentary Space of the Feminine. La femme et l’ecriture. Meknès, Maroc, 1996. In: en.wikipedia.org/wiki/Gender [3] “Essa mitologia assinala a visão intrínseca ao Hinduismo antigo, segundo o qual cada ser humano carrega em si o componente feminino e masculino, que são forças antes que sexos e a harmonia entre eles- criatividade e destruição, força e suavidade, assertividade e passividade- correspondem a uma verdadeira pessoa”. "Arhanarishvara: Hindu deity". Britannica. Archived from the original on 15 August 2018. Retrieved 25 April 2021.In: wikipedia.org/wiki/Gender [4]Aberastury. A e Knoble, A. A evolução sexual desde o auto-erotismo até a heterossexualidade. Em Adolescência Normal (1981). Artes Médicas. Porto Alegre. [5] Klein,



M.The Psychoanalysis of Children. Paperbak. (2018). Franklin Classics. [6] Ver também Post 1- Desenvolvimento da Identidade Sexual- Premissas e Post 2- Energia feminina e masculina na formação da intuição, em Ensaio 2-Sexualidade e Identidade Sexual. Em: www.ceciliapsicologa.org. [7] Ver também Freud, S. Obras completas. [8] Ver também Winnicot. D.W. Creativitiy and its Origin. In: Playing and Reality(1991).Routledge. p.107-113.

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