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  • cecilialeitecosta

ANGÚSTIAS CONTEMPORÂNEAS- RELAÇÕES VIRTUAIS-INTIMIDADE

Dando sequência aos Posts anteriores, a vida atual mescla dois tipos de experiência: contato físico e virtual. A vida virtual não é mais “vida em paralelo”. É uma das dimensões da realidade. Isso compreende novas formas de comunicação, consumo, expressão, de “experiências de si” (egos) e todas com forte exposição. A sociedade atual, como em outros momentos que foram palco de transformações culturais e subjetivas[1], paulatinamente se adapta aos novos estilos de vida e padrões de conduta morais. E a natureza instável dos relacionamentos, que vem se desenhando há décadas, também fica mais exposta com o advento das redes. Relações casuais, carentes de intimidade, sempre aconteceram. Mas a intimidade se tornou, discretamente, um aspecto central no debate sobre a legitimidade dos relacionamentos na rede. Um relacionamento sem contato físico é legítimo? Seria possível pensar em intimidade sem contato físico?[2][3] É necessário haver intimidade para que um relacionamento seja legitimo? Qualquer forma de relacionamento é legítima. Da perspectiva clínica, a “legitimidade” dos diversos formatos de relações virtuais não parece ser o grande ponto de conflito. Intimidade, contudo, é um conceito complexo. Propomos dividi-la em três aspectos constituintes: 1)Afinidades- afinidades são um nível importante na construção da intimidade. Elas se desenvolvem a partir de interesses em comum e/ou complementares à identidade. Pode-se pensar em afinidades estéticas, eróticas/sexuais e de valores morais. As afinidades, a rigor, podem se desenvolver virtualmente, sem contato físico. 2) Intimidade sexual- a interação erótica e sexual acontece na conjugação entre a parte instintiva da sexualidade e a fantasia. A fantasia dá a direção e o colorido ao desejo sexual. Se as fantasias podem se desenrolar bem na rede, a parte da conexão instintiva, fica em falta. 3) Intimidade amorosa- engloba os dois anteriores e a convivência. Não é o fato de ser ou não virtual o grande definidor da intimidade. Há relacionamentos, mesmo com compromisso (projeto de vida a dois), que carecem de afinidades e/ou intimidade erótica. E há relacionamentos com muitas afinidades e até sintonia sexual que podem carecer de intimidade se não tiverem como objetivo um projeto de vida a dois. Podem haver longos namoros ou parcerias sexuais em relações sem compromisso de compartilhamento da vida. Na AP[4] consideramos intimidade o pacote mais amplo vai do encantamento ao desencanto, ambas etapas necessárias para um relacionamento com intimidade. A idealização define a etapa de encantamento ou paixão[5][6]. Intimidade, por sua vez, exige convivência e contato com as neuroses dos parceiros. Intimidade caminha junto com amadurecimento. O fenômeno que talvez seja reflexo da instabilidade dos relacionamentos na rede é o nível de expectativa idealizada[7], sobretudo se levarmos em conta que os relacionamentos muitas vezes não têm a pretensão de serem “checados” na convivência[8]. Finalmente, as inibições e inseguranças continuam a existir. A exposição na rede talvez tenha explicitado as dificuldades de cada no desenvolvimento da identidade e da vida sexual.

Continua no próximo Post



[1] Para maiores detalhes ver: Ensaio 7-Influencias culturais na formação da Identidade. Em: www.ceciliapsicologa.com [2] Para maiores detalhes ver: . In: Virtual intimacy: is the era of actual sexual contact under threat? https://www.theguardian.com › lifeandstyle › jun › [3]Does virtual intimacy exist? A brief exploration into reported levels of intimacy in online relationships”. In: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/17201602/ [4] Analise Psicodramática- nosso referencial metodológico. [5] Dias, V.S. Vinculo Conjugal, in: Vinculo Conjugal na Analise Psicodramática (p13-41).(2000). Ágora. SP [6] Ver também Dias, V.S , em: Diagnóstico Estrutural da crise conjugal em:www.ceciliapsicologa.org/blog. [7]Para maiores detalhes sobre casais na era digital ver: Sardinha, A. & Philligret, Ingrid. Comunicação entre casais na era digital. In Relacionamentos amorosos na era digital (2019).Editora dos Editores. SP [8] Esse tópico será desenvolvido no próximo Post.

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