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  • cecilialeitecosta

ANGÚSTIAS CONTEMPORÂNEAS-IDENTIDADE SEXUAL/ GÊNERO-TERMINOLOGIA

Atualizado: 25 de set. de 2021

Dando sequência aos Posts anteriores abordaremos as controvérsias sobre a sexualidade (em especial relativas à identidade sexual e de gênero) partindo da AP (desenvolvimento/ psicodinâmica) como principal referencia metodológica. O intuito é dar relevo aos conflitos menos evidentes nas angustias despertadas na identidade sexual e de gênero, de forma a trazer maior complexidade para o debate. Para tanto, é importante esclarecer os critérios usados na nomenclatura, a fim de focar nos pontos mais obscuros. Até os anos 50, gênero era associado à gramática (substantivos e pronomes). Os anos pós segunda guerra mundial foram precursores da revolução cultural nos costumes do final dos anos 60 e 70. Assistiu-se ao surgimento da teoria do gênero como papel social, do sexologista John Money; da teoria de sexualidade como forma de poder, de Michel Foucault, do estruturalismo de Lacan até as teorias feministas sobre Gênero, que o definem como construção social e cujo ápice poderia ser considerado o pensamento de Judith Butler[1]; no campo das ciências sociais. De lá para cá, continuamos a assistir à disputa entre cientistas, intelectuais e profissionais da área medica e “psi” sobre a natureza do gênero: seria ele um componente intrínseco ao sexo, e por conseguinte, de natureza binaria-feminino ou masculino? Ou seria ele uma construção social, já que pressupõe a “expectativa de papéis e comportamentos associados a cada gênero/sexo[2]? Os estudiosos se dividem, grosso modo, ainda hoje em: 1) pesquisadores da área das ciências naturais, em geral focadas nas “diferenças biológicas entre machos e fêmeas nas espécies e suas influências na formação do gênero[3]” e 2) pesquisadores área das ciências sociais, adeptas da teoria do gênero como construção social. Usaremos a nomenclatura estabelecida pelo manual diagnóstico e estatístico psiquiátrico (DSM), cujo escopo é estabelecer a fronteira entre normalidade e patologia. Em que pese a restrição do vocabulário médico para avaliar identidades sociais- identidades sexuais emergentes, por exemplo-, ele ainda é a referência mais importante para a avaliação de quadros psicopatológicos e para as próprias controvérsias no âmbito das expressões identitárias na cultura. A partir dele esperamos nuançar as diferenças e complementaridades entre compreensão e abordagem médica e psicodinâmica[4]. A psiquiatria avalia estados e condições mentais a partir de síndromes- conjuntos de sinais e sintomas. Os transtornos definem as síndromes cuja etiologia seja desconhecida (o que significa que têm origem emocional), ao passo que espectro- área de variação entre dois limites, que vai do menor ou maior - define o grau de acometimento do transtorno. Temos, por exemplo, o espectro autista que vai de baixo a alto funcionamento ou o espectro do gênero, que varia entre masculino e feminino. A partir desse critério, Transexual é o indivíduo que passa pela transição de masculino para feminino ou vice-versa e Transgênero é o individuo que transitória ou persistentemente se sente em um gênero diferente do nascimento. Identidade de gênero, por sua vez, seria uma categoria de identidade social (não médica) e poderia ser incluída em qualquer ponto do espectro. Ela se refere: “(...)a um senso de identidade coletiva/social que gera um cultura comum entre os participantes[5]”. Para as reivindicações culturais atuais, a nomenclatura esbarra de cara em controvérsias por ser essencialmente binária: supõe que gênero seja uma designação biológica, posto que “não se sentir no seu gênero” seria sinônimo de “não se sentir no seu sexo de nascimento”. Ela também traz acoplado outro problema: não se sentir no seu sexo de nascimento seria o mesmo que não se sentir de acordo com o que é esperado para o seu sexo de nascimento- comportamentos e papéis (gender role). Essa não é apenas uma reedição da antiga disputa entre “nature or nurture” (natureza genética ou socialmente construída do gênero ou da disputa politica entre “conservadores e progressistas”. As controvérsias relativas ao gênero/identidade de gênero são azeitadas pela própria imprecisão terminológica. Para pessoas entrevistadas pelo Times, que se designam fluidas[6], as estatísticas que embasam o DSM, até aqui, são insuficientes porque usam exclusivamente amostras de sujeitos que fizeram a transição e, portanto, optaram pela condição binária Os fluidos continuam excluídos, o que atesta a incompreensão dos sofrimentos existenciais ligados a gênero/ identidade gênero até então[7].

Continua no próximo Post [1] “Dentro do campo feminista, a terminologia para questões do Gênero se desenvolveu ao longo dos anos 70. Em 1974, na edição de Masculino/Feminino ou Humano? ( De Chafetz, J.S.) o autor usa “gênero inato” versus “papéis sexuais aprendidos”; mas na edição de 1978, sexo e gênero são usados de forma intercambiável. Em 1980, a maioria dos textos feministas já eram consensuais no uso de gênero como sinônimo traços socio-culturais adaptados”. Within feminist theory, terminology for gender issues developed over the 1970s. In the 1974 edition of Masculine/Feminine or Human?, the author uses "innate gender" and "learned sex roles",[60] but in the 1978 edition, the use of sex and gender is reversed.[61] By 1980, most feminist writings had agreed on using gender only for socioculturally adapted traits. [2]Vale notar que, naquela época, as criticas à natureza biológica do gênero vinham, quase inteiramente, da reivindicação de direitos iguais ao sexos/gêneros. Elas tinham como principal objetivo reivindicar o direito à igualdade de tratamento salarial, no âmbito profissional e respeito às escolhas e preferências sexuais que eram, sobretudo aos casais de orientação homossexual.. [3] Gender. In wikipedia: https://en.wikipedia.org/wiki/Gender [4]É importante salientar que, a nosso ver, psicoterapia e psiquiatria não são excludentes. Ao contrário, podem e devem atuar de forma complementar, quando for o caso, para ajudar o cliente a recuperar o humor e o pragmatismo e voltar à vida. Muitas vezes a angustia é tão grande que a própria psicoterapia fica impossibilitada de seguir de forma eficaz. A medicação atua como um contenção externa, até que a pessoa esteja com equilíbrio para o aprofundamento necessário na psicoterapia. [5] Social identity refers to the common identification with a collectivity or social category that creates a common culture among participants concerned”. In:https://en.wikipedia.org/wiki/Gender [6] In: The struggles of rejecting the Gender Binary. Bergner, D. in: New York Times magazine. June 4th , 2019. [7] Herman, Jody is a public-policy scholar t the U.C.L.A. School of Law’s Williams Institute, a think tank devoted to issues of gender and sexual orientation. In: The struggles of rejecting the Gender Binary. Bergner, D. in: New York Times magazine. June 4th , 2019.


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