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cecilialeitecosta

ANGÚSTIAS CONTEMPORÂNEAS- A NATUREZA DO GÊNERO

Dando continuidade à discussão sobre a “natureza do gênero”, a disputa parece, a primeira vista, ser entre as teorias que assumem que gênero esteja, em algum nível, associado ao sexo biológico de nascimento (ciências naturais) ou as que defendem que essas sejam expectativas culturais (adquiridas na socialização, socialmente construídas). Mas ela não para aí. As correntes de pensamento que trouxeram a Linguagem (Simbólico-Cultura) para matriz do compreensão das “narrativas” pessoais e da fronteira entre normalidade e patologia foi revolucionária para entendermos que, na base dessas classificações, existe uma assunção que é de valor (ética). Supor que orientação sexual homossexual seja doença, por exemplo, foi uma das mais importantes “desconstruções” simbólicas associadas a essa forma de pensar. Ainda assim, isso não torna naive as teses que buscam elos inatos entre gênero e sexo e, do ponto de vista clínico, os conflitos acerca do gênero não se resumem a essa querela[1]. Essa parece ser uma disputa sem vencedor, até aqui. Para a Organização Mundial da Saúde (OMS) sexo e gênero se distinguem entre “(...) o que é biológico e não muda e o que pode mudar de acordo com a estrutura social[2]”, respectivamente. Identidade de gênero, por sua vez, seria uma categoria de identidade social. Essa distinção foi emprestada do sexólogo Money, primeiro autor a cunhar o termo gender role (Papéis associados ao gênero) em 1950. Na esteira do conceito de Gender role, identidade de Gênero “(...)foi usada pela primeira vez em novembro de 66 para anunciar a nova clínica para Transexuais(...)”. De lá para cá “(...) se popularizou na seguinte distinção: sexo- o que um indivíduo é biologicamente-, gênero- o que o indivíduo se torna socialmente, identidade de gênero- a sua auto-percepção como feminino e/ou masculino e papéis associados ao gênero- expectativas de papéis e condutas associados ao sexo”[3]. Um dos aspectos controversos decorre da assunção de que condições de gênero “desconformes com o sexo” sejam patológicas. As ciências sociais entraram em campo para defender que não se pode colocar na conta da natureza o produto de seres que se desenvolvem numa cultura, com expectativas sobre o que devem ser e desejar. Até então, essa parece ser uma disputa sem vencedor visto que os autores de ambas as correntes partem de pressupostos que se excluem e, portanto, não há diálogo possível. Por um lado, não é evidente que “jeitos” masculinos e femininos estejam intrinsecamente ligados ao sexo biológico. Por outro, do ponto de vista dos conflitos na identidade, muitas vezes não é suficiente defini-los como construções sociais[4].

Continua no próximo Post


[1] Esse ponto será desenvolvido nos próximos Posts. [2] De acordo com a OMS “(...) gênero e o resultado expectativas sociais sobre comportamentos, ações e papeis que sexos específicos deveriam empenhar” (tradução livre) [3] Ibid [4] Essa perceptiva é baseada nas minhas reflexões clínicas e, portanto, atestam a minha visão sobre o assunto.








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