Para a AP[1] “mudanças cenestésicas”[2] se referem ao turbilhão sensório desconhecido que marca novas etapas do desenvolvimento e implica em adaptações às novas exigências orgânicas e psíquicas. No caso dos seres humanos, eles acontecem no nascimento, no surgimento dos hormônios sexuais (capacidade reprodutiva) e na menopausa (interrupção da capacidade reprodutiva espontânea). Levando em conta os 4 aspectos presentes no desenvolvimento- eventos previstos na espécie, influências culturais, climas/atmosferas psicológicas introjetadas e vivências próprias-, pode-se afirmar que a adolescência é uma fase especialmente suscetível porque marca a transição para as exigências e necessidades de um corpo e vida adultos. Sintomas típicos dessa etapa são comportamentos de recolhimento e introspecção, em especial na puberdade, com o surgimento da energia sexual. É comum nessa época o corpo “reagir” psicologicamente à essas mudanças até se adaptar: podem haver sintomas como enurese noturna, constipação, medos desproporcionais, além de ansiedade, de forma mais genérica. Posteriormente, na adolescência, sintomas comuns são: hesitação, insegurança e sentir-se “sem jeito” com a primeiras experiências do erotismo no próprio corpo e no encontro com outros corpos- comportamentos sexuais[3]. A impulsividade e o desejo de experimentação (risco)[4] também são sinais típicos da adolescência, que vêm na esteira do salto nas capacidades lógica e analítica que acompanham as mudanças esperadas para essa fase. A instabilidade emocional e vulnerabilidade, em poucas palavras, pode ser explicada pela mudança no “chão psicológico[5]” (Ego/Identidade). Nosso chão psicológico é um conjunto de conceitos, valores, gostos e traços essenciais que definem nossa percepção de nós mesmos- Identidade. Na infância ele vem da família ou núcleo mais importante de criação. A partir da puberdade/adolescência isso começa a mudar. Os mecanismos de defesa comuns na adolescência podem sinalizar recursos saudáveis ou de fuga (não saudáveis) do Ego. O superinvestimento da energia no conhecimento intelectual, por exemplo, é uma das formas saudáveis de canalizar e descarregar a energia excessiva de forma produtiva, no desempenho acadêmico. Se, por outro lado, ele funcionar como forma de evitar a ansiedade disparada pelo contato (i.e, pelo medo do contato (fobia), pode instalar um bloqueio emocional, com eventual prejuízo fisiológico, na socialização e até, paradoxalmente, no próprio desempenho acadêmico (se o nível de ansiedade começar a impedir a concentração e, por conseguinte, a memorização). Portanto, os bloqueios, nessa fase, estarão associados aos conflitos relativos às mudanças identitárias, no chão psicológico e às mudanças cenestésicas. Na origem dos sintomas, está a correlação entre conflitos mal resolvidos na infância- i.e, na introjecção de modelos pré-existentes (infantis, parentais)- que geram angustia neurótica e sintomas oriundos da angústia existencial, recém inaugurada, relativa à entrada na vida adulta.
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[1] Análise Psicodramática, nosso referencial metodológico. [2] Segundo o Aurélio, Cenestesia:“É a designação genérica para as impressões sensoriais internas do organismo, que formam a base das sensações, p.ex., de estar com saúde, de estar relaxado etc., por oposição às impressões do mundo externo percebidas por meio dos órgãos dos sentidos”. In:www.dicio.com.br [3] Para maiores detalhes ver Dias, V.S, in: Post 4-Segunda fase cenestésica. Puberdade - chegada da energia sexual. in Ensaio 2-Sexualidade e Identidade Sexual. Post 1- Chegada da energia sexual-Fase Auto-sexual, in Ensaio 3- Desenvolvimento da Identidade Sexual. Post 1- In: www.ceciliapsicologa.org [4] Para maiores detalhes ver Ensaio 1-Comportamento de risco na adolescência. In:www.ceciliapsicologa.org. Bloco III -Adolescência. Episodio 2-O que é ser adolescente? in: Falando de Psicologia com Cecilia Leite. In:YouTube [5] Para maiores detalhes ver Post 4- Energia Sexual e ambivalências, in: Ensaio 5- Angústias e adolescência. Bloco VIII- Adolescência no século 21. Episodio 1- Instabilidade emocional na adolescência, in: Falando de psicologia com Cecilia Leite. In YouTube
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